Na terça, dia 10 de junho, farei 27 anos. O texto poderia terminar aqui. Querer falar dos vinte e seis sem mencionar os anos anteriores seria incoerente, uma vez que todos somos um acumulo do tempo. Assim como de sonhos, pensamentos, medos, momentos de coragem e cansaço. Principalmente de cansaço. Tenho estado muito cansada. Não sei dizer se pela rotina (que não é tão cansativa assim), se por apanhar pouco sol, se pelas “falhas” na alimentação, se por sentir que estou um pouco longe dos desejos da minha essência. Tenho tempo, mas não tenho tido a energia para fazer mais e melhor por mim. Vivo numa contradição constante entre estar cansada, desejar descansar e, por um motivo que não sei explicar, não o fazer. Dias se passam nessa rotina, crente de que “mais tarde” poderei descansar, só que esse tempo parece nunca chegar. O cansaço, pelo contrário, vai aumentando, ocupando um espaço que poderia pertencer a outras esferas da minha vida.
Uma das primeiras coisas que disse à nova psicóloga é que sinto-me cansada há três ou quatro anos, muito por causa dos burnouts que fui vivendo e que nunca resolvi a cem porcento. Sinto, também, que há ciclos que não fechei devidamente, pensamentos que pairam sobre acontecimentos que pertencem ao passado, mas que me acompanham como sombras que não querem deixar-me viver sossegada. Apeguei-me a algo dentro de mim que, atualmente, não me deixa olhar ao espelho sem sentir vontade de esmurrá-lo. Construí uma verdade que me mente constantemente e que quero, mais do que nunca, queimar, catalisar, deixar ir. Rastejo até aos 27 anos com a sensação de estar à beira da loucura…ainda que seja uma que me inspira a fazer qualquer coisa. Só que antes de qualquer coisa, preciso mesmo de descansar.
Quero passar mais horas atirada na cama sem fazer nada. Quero ir à praia de manhã à noite sem pressa de voltar a casa. Quero sujar as mãos com tinta, após horas a pintar o que tiver no coração. Quero estar mais ativa na escrita e menos nas redes sociais (cuja presença tem sido passiva). Quero fazer amizades com pessoas com quem possa partilhar tardes a beber chá, comer bolo, falar sobre tudo e ler. Quero integrar comunidades das áreas pelas quais me interesso. Quero dar mais. Estou farta de consumir sem transformar a informação em conhecimento. Sinto-me a rebentar com a quantidade de pensamentos que guardo, o receio de não saber o suficiente para partilhá-los com o mundo.
Prestes a colher mais um ano de vida, questiono-me a partir de quando é que passei a sentir tanto medo das coisas… Quando é que comecei a duvidar tanto de mim… Quando é que a passagem do tempo tornou-se tão assustadora, ao ponto de querer saltar para os patamares finais, sem me dar ao luxo de aproveitar a caminhada. Quero atirar-me ao chão e fazer uma birra do tamanho do mundo até sentir que as ideias se organizam.
Sendo esta fase a representação de uma tempestade, mais do que almejar a bonança, desejo compreender as origens deste turbilhão. Quero apropriar-me dele, aceitá-lo, usá-lo a meu favor. Estes últimos anos têm sido de pura luta interna. Meti-me com pessoas com as quais jamais me deveria ter cruzado. Tive ideias que nunca pus em prática. Integrei ideias e projetos que me esgotaram. Fiz viagens que não deveriam ter acontecido. Magooei-me e fingi que estava tudo bem. Guardei tudo para mim e, como qualquer vulcão, estou à beira da erupção.
A tempestade com a qual sempre coabitei “bem” incomoda-me mais do que nunca, um indicativo de que, talvez, seja necessária uma mudança no modo como trato de mim, como me encaro e o que faço para me preservar, sem que isso prejudique as minhas relações, o meu trabalho e os meus talentos e paixões. Passem os anos que tiverem de passar, a pergunta que prevalece será a mesma: Quem sou eu quando não me escondo?1 Espero vir a descobrir parte de uma nova resposta ao longo dos 27.
Ainda que sinta o pulsar das palavras que partilho aqui, tenho em mim que muitas delas são ecos do que não fui dizendo. São, no fundo, resultado de um amontoado ridículo de emoções que fui guardando, expressando-me de forma rasa. Seja nesta plataforma como no meu journal - que, inclusive, deixei de parte, substituindo-o por um diário dos 5 minutos -. Quando releio o que publico, sinto falta de mim, dos malabarismos que tanto adoro praticar, versando sentimentos que, à partida, não precisam de ser imediatamente compreendidos. Basta que sejam reconhecidos, colocando-os para fora.
Deixei de me saber escutar, cobrando-me de todas as vezes em que imaginei um desabafo e não o materializei, crente de que o processo seria complicado, demorado… Sei perfeitamente que a escrita dos meus textos não é linear. Gosto de escrever alguns parágrafos, parar, pensar, ler outras coisas, voltar para mim… E ter querido algo diferente do que me é tão natural traduziu-se numa perda do meu modo de expressão. Do que me é verdadeiramente genuíno. Do que me recorda da felicidade em escrever. Do que me conecta à minha essência.
Se for a resumir, os últimos anos têm sido cansativos mediante as fugas de mim mesma às quais me entrego. E, quando me perco, levo de arrasto a sensibilidade que me conecta ao mundo. Estando consciente disso, quero fazer diferente a partir dos 27. Mais do que mudanças drásticas, reconheço ser importante o processo de resgate das versões que fui negligenciando, por acreditar que tornar-me noutra pessoa seria o melhor caminho. Percebi um pouco tarde, mas vou sempre a tempo de seguir outra rota.
Nem tudo são coisas más!
No turbilhão de dramas, há coisas boas que preciso de sublinhar, mais não seja para as reler e não endoidar em momentos de crise existencial. Ainda esta semana, reli os meus objetivos para 2025, sem sequer imaginar que estaria perto de concretizar alguns no início do ano:
Menciono o facto de ter começado a trabalhar numa galeria de arte com um horário mega flexível, que me permite ter uma vida pessoal. Esta conquista ressoa muito com algo que sempre quis, sobretudo por me permitir aprender uma faceta do mundo das artes que desconhecia.
Ter um salário fixo permitiu-me contactar uma nutricionista com a qual tenho aprendido muita coisa, sobretudo sobre a gestão da ansiedade em torno da comida. Se um dos objetivos para 2025 era melhorar os horários das refeições, ingerindo mais frutas e legumes, ter este acompanhamento influencia imenso esses hábitos.
Por agora ter um Kobo, passo muito do meu tempo a ler, atividade que sempre me deu imenso prazer. É uma ferramenta que substitui - e de que maneira! - o telemóvel, evitando o seu uso ao longo do dia.
Não pinto com a frequência que gostaria, porém, faço-o mais do que no decorrer de 2024. É com pequenos passos que lá chegamos, não é?
Com a chegada do verão, chegou também a oportunidade de investir em tranças coloridas, um traço de personalidade importante que descobri há uns anos. Entre alguns gestos de ousadia, as tranças coloridas manifestam bem o que me vai na alma.
O Substack tem sido uma ótima plataforma para conhecer pessoas e fazer amizades. Não estava à espera que acontecesse, mas o tempo tem-me aproximado da
, pessoa cujo trabalho conheci devido a uma lista que recomenda newsletters escritas em português de Portugal. Além da poesia que tão bem expressa nos seus textos, a Raquel exala uma simpatia contagiante (e que a sua filha Teresa herdou). Mal posso esperar pelo nosso próximo cafézinho com um bolo a acompanhar.
Tenho estado muito emocionada nos últimos dias. Choro sempre que posso, portanto mal tenho parado para cogitar sobre outros rumos que quero dar à minha vida de adulta com quase 27 anos (além dos que mencionei acima). Tirarei alguns minutos nos próximos dias de descanso (e que serão usados, de igual forma, para a dissertação) para escrever listas para os próximos meses, mais por diversão do que por outra coisa qualquer. Até lá, espero muito sinceramente que não chova na terça-feira. Mesmo sem saber em que condições estará o Speedy2, gostaria de ir à praia com o JR, apanhar sol e jogar ao disco. Fingers crossed!
Até breve,
Carolayne 🎂
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